Contact Us

Use the form on the right to contact us.

You can edit the text in this area, and change where the contact form on the right submits to, by entering edit mode using the modes on the bottom right. 

         

123 Street Avenue, City Town, 99999

(123) 555-6789

email@address.com

 

You can set your address, phone number, email and site description in the settings tab.
Link to read me page with more information.

Inéditos

Filtering by Tag: Miguel Cardoso

Porém nos transportes

Maria S. Mendes

 

Porém nos transportes

temos lugares

imaginados

 

somos publicamente

levados no inverno

de A a B tendo atirado

para longe

para o chão

um cigarro

idêntico ao anterior

 

mas acrescente-se

nunca é coisa vagarosa

um cigarro aliás

só finjo que percebo

o advérbio vagarosamente

 

treme tudo nos mundos possíveis

 

mas voltando atrás

 

estávamos na paragem

com o tal cigarro

idêntico ao anterior

excepto na maneira de morrer

 

passa-se a língua pelos lábios

para chegar ao fim

fechar a conta

a um pedaço de tempo

mas estou em dívida

o meu corpo não se esquece

de me lembrar

 

não administro bem os hábitos

quanto mais

as regulares tristezas

quando pegam fogo

 

em fundo

raízes por fora

viradas para cima

a pedir luz

como também pede o corpo

não se esquece

 

mesmo na sombra

há extraordinariamente cores

a pedir luz

no meio

do negativo

 

os cigarros

serão lâmpadas

sóis

servem

por agora

 

depois é preciso mais

 

mais maneiras

de não sermos

livres frutos desimpedidos

 

tanta sombra

 

a minha fototaxia fode-me

 

mas dizia eu

 

nos transportes

teremos locais imaginados

palavras polaroids

muito escuras

quem não as tem

na esperança de morrer menos

reservar algumas estações

românticas como termómetros

quando o mercúrio deixou

de ligar à sua vocação

de Sísifo

dos pequenos intervalos numéricos

deixou-se ficar ali

ou escapou

para ir morrer longe

ou perder-se da memória

 

ou nela

não há diferença

 

já somos restos

 

se fugirmos a todas as dívidas

fica o quê

 

o autocarro não chega

e o sol põe-se

 

 Miguel Cardoso


Miguel Cardoso vive em Lisboa. Ensina, traduz. Escreve em longos problemas respiratórios. À noite lê Albas e Ruy Belo. A poesia é para esperar por manhãs seguintes. Às terças e sábados levanta-se. Vai à Feira da Ladra.  Ler também aqui.