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Poemas de agora

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Sewing Lessons

Maria S. Mendes

 

Sewing Lessons

 

Despite your lessons,

I never learnt to sew.

I could never master the fluid

movement required to darn a tear,

sealing it tight.

Could never emulate the steady rhythm

of your hands as you thread

the faint stitch through the lip

of the ripped fabric.

Your casual flick of the wrist.

The simple knot you tie with a gentle twist,

a bow formed from loose ends

and dangling cotton wisps.

Even now I bring you clothes.

Garments with gashes of flesh missing,

torn out by careless tumbles.

Blazers with burnished buttons slack

from too much wear.

I know what you will say.

I should learn to sew,

to seal up this gasping gulf,

but I bless my ignorant hands.

 

Ellen Davies, “Sewing Lessons”, Popshot Magazine, n.º 13, The Outsider Issue, 2015, p.9.

© Ellen Davies. Reproduced with the author’s permission.

Ellen Davies Poetry

 

Gosto deste poema porque me traz referências autobiográficas — e essa é uma razão válida e honesta para qualquer leitor gostar de um poema à primeira leitura: memórias de infância. Fui um anacronismo na minha geração (nascida na década de 60 do século XX). Sou uma menina prendada – aprendi a descer as bainhas dos meus vestidos (e a ler) aos 6 anos, com a minha mãe; aos 14 já não dizia a ninguém que sabia bordar, tricotar, fazer crochet (e que gostava do Eurico, o Presbítero). Tudo prendas embaraçosas para uma adolescente dos anos 80: I cursed my knowing hands.

Ellen Davies tem idade para ser minha filha. O que me coloca, como leitora, no meio de um abismo de que ela aqui fala e a parece separar à primeira vista da sua interlocutora no poema – a avó. A neta nunca conseguiu aprender a costurar; a avó lamenta-o de todas as vezes que ela lhe vai pedir que remende os rasgões e acidentes das roupas. Mas, apesar de simples contratempos que hoje em dia, tanto aqui como no País de Gales (de onde Ellen Davies é natural e onde vive), se resolveriam indo a uma loja das muitas cadeias de roupas baratas, “Even now I bring you clothes”.  Estes rasgões e acidentes dão-nos a ler, se atentarmos, feridas palpáveis, visíveis e invisíveis, de uma vida: “Garments with gashes of flesh missing/ torn out by careless tumbles” – o tecido e a pele cosidos pelas palavras: cortes profundos, resultantes de quedas descuidadas, trambolhões, que a deixam (roupa e poetisa) em carne viva – lutas e desgastes que indiciam o cansaço e o desânimo: “Blazers with burnished buttons slack/ from too much wear.” – o blazer, casaco formal, profissional, académico, de botões brunidos, alisados pelo efeito normalizador dos quotidianos “produtivos”, e lassos, quase a cair. Estas idas a casa da avó têm, pois, dois níveis de leitura: o arranjo de costura (um álibi) e a necessidade de consolo.

De resto, se a poetisa nunca aprendeu a coser, não foi por falta de sentido de observação ou de memória. A descrição, a partir do terceiro verso, da coreografia da costura, levanta a suspeita de que ela pudesse afinal fazê-lo, tal como o reproduz na construção dos versos – o movimento fluido rematado com decisão no quinto verso, o ritmo certo e cuidadoso que se lhe segue (“as you thread / the faint stitch through the lip/ of the ripped fabric”.), o golpe de pulso, inesperado, contido no décimo verso: “Your casual flick of the wrist”. Os próprios versos finais do poema – “I should learn to sew, to seal up this gasping gulf/ but I bless my ignorant hands” – recriam o tipo de solução de rematar as pontas soltas do trabalho, que supostamente seria incapaz de reproduzir: “The simple knot you tie with a gentle twist,/a bow formed from loose ends/and dangling cotton wisps”.

Na verdade, as pontas soltas continuam lá – a neta não sabe costurar (mas sabe coser versos), o abismo que se cava devido a essa teimosia, ou estratégia, continua (e as feridas de que deveria aprender a defender-se), mas tudo isto se remata com uma bênção a essa suposta ou real incapacidade, pois é com essas linhas que esta relação de amor e intimidade se cose e mantém, even now. E graças a essa ignorância há matéria para este poema, bless her.

Ana Maria Pereirinha


Ana Maria Pereirinha trabalha em edição, é tradutora e doutoranda no Programa em Teoria da Literatura (FLUL). A sua relação com a poesia começou no jardim de infância, como slammer avant-la-lettre de grande sucesso, a rimar sobre marmelada e chocolate.