Entrevista a Fleur Adcock
Maria S. Mendes
Ser poetisa é uma espécie de formulação dúbia, porque nos velhos tempos as pessoas diriam: “Não pode dizer que é poeta, isso é como dizer que é um génio”. Há muitos anos fui casada com um poeta, e ele e os seus amigos diziam simplesmente “I write verse” [“Escrevo versos”]. Agora toda a gente se afirma poeta e até fazem menção disso nos passaportes. As pessoas, muitas vezes crianças na escola, perguntam-me: “Quando é que decidiu ser poetisa?” Explico-lhes que nunca decidi ser poetisa, não era uma coisa que eu achasse que podia vir a ser. Quando tinha seis ou sete anos, escrevia pequenos poemas e rimas - isso era criar um poema, não era ser isto ou aquilo. Às vezes encontro pessoas nas lojas do bairro, que me dizem: “Ah, você é aquela senhora poeta!” Apareci no jornal local quando dei uma leitura na livraria, foi por isso que me reconheceram. O único momento em que alguém pode efectivamente dizer que é poeta é no próprio momento em que está a escrever… certamente que agora, neste momento, não estou a ser poetisa. No meu passaporte diz… ah, não, hoje em dia não é preciso indicarmos a ocupação profissional. Quando tínhamos de o fazer, eu achava que era escritora e o meu contabilista considerava que eu era autora, o que fazia com que eu fosse autora na minha declaração fiscal e escritora no meu passaporte, mas nunca diria poetisa, isso para mim seria um bocado pretensioso.
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