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The first to die was PROTESILAUS

Poemas de agora

The first to die was PROTESILAUS

Maria S. Mendes

 

The first to die was PROTESILAUS

A focused man who hurried to darkness

With forty black ships leaving the land behind

Men sailed with him from those flower-lit cliffs

Where the grass gives growth to everything

Pyrasus         Iton    Pteleus                      Antron

He died in mid-air jumping to be first ashore

There was his house half-built

His wife rushed out clawing her face

Podarcus his altogether less impressive brother

Took over command but that was long ago

He’s been in the black earth now for thousands of years

 

Alice Oswald, “The first to die was PROTESILAUS”, Memorial: An Excavation of the Iliad. Londres: Faber, 2011.

 

Gosto deste poema porque é escrito através de Homero, em vez de ser uma tradução. Como em todo o livro de Alice Oswald, estamos aqui perante um fragmento da Ilíada e da vida de um soldado, precocemente interrompida, tal como a casa semiconstruída e as terras que, deixadas para trás, são reduzidas aqui a uma mera sequência de nomes espaçados entre si (“Pyrasus     Iton Pteleus Antron”). A segunda parte do título do livro de Oswald promete uma escavação e, de facto, a autora resgata ao interminável fluxo de acção da Ilíada (e à scriptio continua sem pontuação) Protesilau, o primeiro a morrer na guerra, desenterrando alguém que jaz no poema há milhares de anos.

A própria disposição dos elementos biográficos interrompe a sequência da Ilíada e cria novas relações entre os fragmentos. No poema de Homero, Protesilau é mencionado no contexto do catálogo dos navios no canto segundo, aparecendo por causa da referência aos homens de Fílace, de quem foi comandante. A viúva e a casa inacabada, que surgem como elementos separados, funcionam como prelúdio ao elemento mais destacado em termos da lógica heroica: a morte. Oswald, por seu lado, começa por relatar brevemente a morte apressada de alguém que, vindo de uma terra iluminada por flores (“flower-lit cliffs”), se precipitou a ir ao encontro da escuridão: “He died in mid-air jumping to be first ashore”. Transposta para depois da narração da morte, a relação entre a casa e a mulher ganha então uma continuidade cinemática, como quando uma câmara foca um objecto e acompanha depois o movimento que se desenrola a partir dele: primeiro contempla-se a casa, “There was his house half-built”, depois imagina-se a mulher a sair dela a correr, dominada pela dor, “His wife rushed out clawing her face”.

Por outro lado, Oswald joga com a dupla temporalidade criada pela paráfrase desta breve biografia. Protesilau é substituído por Podarces (um irmão bem menos impressionante, numa variação do lugar comum do herói temerário, trocado pelo oficial que podemos presumir mais prudente), à frente do exército que levou para Troia. Quem narra acrescenta “but that was long ago”. Na Ilíada, passam-se nove anos entre a morte de Protesilau e a circunstância do catálogo dos navios, e as traduções canónicas do poema falam apenas da passagem de “vários anos”. Mas o último verso revê esta temporalidade de forma lacónica: “He’s been in the black earth now for thousands of years”. A estrutura sintáctica iniciada com “but”, no verso anterior, leva o leitor a pensar que o último verso esclareceria o penúltimo, mas, na verdade, os versos contêm uma ambiguidade que nos permite contemplar temporalidades díspares. O penúltimo verso pode referir-se ao tempo da Ilíada, mas o último refere-se ao nosso tempo, visto que os milhares de anos se contam a partir de nós, não dos gregos, em Troia. Não estamos já perante um poema que se dirige familiarmente a Pátroclo como “tu”, mas perante a escavação pós-schliemanniana de uma Troia distante e reduzida a fragmentos.

Miguel Ramalhete Gomes


 

 

Tradução de Robert Fagles dos versos gregos parafraseados por Alice Oswald

Then men of Phylace, Pyrasus banked in flowers,

Demeter’s closed and holy grove and Iton mother of flocks,

Antron along the shore and Pteleos deep in meadows.

The veteran Protesilaus had led those troops

while he still lived, but now for many years

the arms of the black earth had held him fast

and his wife was left behind, alone in Phylace,

both cheeks tom in grief, their house half-built.

Just as he vaulted off his ship a Dardan killed him,

first by far of the Argives slaughtered on the beaches.

But not even then were his men without a captain,

yearn as they did for their lost leader. No,

Podarces a fresh campaigner ranged their units–

son of Iphiclus son of Phylacus rich in flocks–

Podarces, gallant Protesilaus’ blood brother,

younger-born, but the older man proved braver too,

an iron man of war. Yet not for a moment did his army

lack a leader, yearn as they did for the braver dead.

Under Podarces sailed their forty long black ships.

 

Homer, The Iliad, trad. Robert Fagles. Londres: Penguin, 1991.


Miguel Ramalhete Gomes encontra-se no ponto exacto entre dois empregos. Ou seja, está desempregado. Foi bolseiro de pós-doutoramento da FCT na FLUP, com um projeto sobre Shakespeare no tempo da austeridade. Felizmente é poupadinho, embora não nas palavras.