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Reading Scheme

Poemas de agora

Reading Scheme

Maria S. Mendes

 

Reading Scheme 


Here is Peter. Here is Jane. They like fun.  

Jane has a big doll. Peter has a ball. 

Look, Jane, look! Look at the dog! See him run! 
 

Here is Mummy. She has baked a bun. 

Here is the milkman. He has come to call. 

Here is Peter. Here is Jane. They like fun.


Go Peter! Go Jane! Come, milkman, come! 

The milkman likes Mummy. She likes them all.

Look, Jane, look! Look at the dog! See him run! 


Here are the curtains. They shut out the sun. 

Let us peep! On tiptoe Jane! You are small! 

Here is Peter. Here is Jane. They like fun. 


I hear a car, Jane. The milkman looks glum. 

Here is Daddy in his car. Daddy is tall. 

Look, Jane, look! Look at the dog! See him run! 
 

Daddy looks very cross. Has he a gun? 

Up milkman! Up milkman! Over the wall! 

Here is Peter. Here is Jane. They like fun. 

Look, Jane, look! Look at the dog! See him run!

 

Wendy Cope, “Reading Scheme”, Making Cocoa for Kinsley Amis. London: Faber & Faber, 2010.  

Gosto deste poema porque nos ajuda a desfazer a ilusão – e a confiança – que por vezes depositamos em manuais de leitura. Encontramo-nos na presença de um “reading scheme”, ou seja, da alusão a uma série de livros escritos para crianças que tinham (e têm) o propósito de as ensinar a ler. Nos anos 70, as crianças inglesas treinavam a leitura através das histórias de Peter e Jane, que tinham um cão, uma bola e que faziam coisas divertidas em casa, com a mãe e com o pai (quando este chegava do trabalho). O objectivo destes livros era o de assegurar o ensino progressivo de palavras a crianças, independentemente do seubackground, para que fossem ganhando vocabulário. O poema de Wendy Cope brinca com estas histórias, das quais parte, mas para desenvolver uma ideia de interpretação segundo a qual aprender a ler é, também, perceber o contexto de uma situação e de duplos sentidos na linguagem, algo que, em certos casos, crianças pequenas não conseguem fazer. 

O poema encontra-se escrito na forma de villanelle e é, do ponto de vista técnico, um exemplo virtuoso desta forma, em que o primeiro verso é repetido no último do segundo terceto, enquanto o terceiro verso do primeiro terceto se repete no terceiro terceto, com dois refrães que se vão alternando até se unirem no terceto final, o que poderia indicar uma progressão no poema que, aqui, não tem lugar. 

Vejamos: Peter e Jane, que gostam de se divertir, têm uma boneca, uma bola e um cão, que vêem a correr. Por um lado, temos a mãe, que esteve a fazer um bolo. Por outro, o leiteiro - “he has come to call” – uma passagem que indica que este veio deixar o leite e visitar a mãe. Neste ponto, a mãe manda embora as duas crianças –  “Go Peter! Go Jane!” – para deixar entrar o leiteiro, surgindo assim a possibilidade de o verso “She has baked a bun” não se referir a um bolo, mas sim ao resultado da relação da mãe com o leiteiro. “He has come to call” e “Come, milkman, come!”, têm um sentido sexual explícito, que se torna ainda mais claro, quer pela exclamação, quer pela repetição do verbo. Neste ponto, ficamos a saber que, naturalmente, o leiteiro gosta da mãe e que a mãe gosta de todos eles, o que pode indicar que tem estima pelas duas crianças e pelo leiteiro, mas também que o leiteiro não é, ou poderá não ter sido, o único homem com quem a mãe se relacionou. Na quarta estrofe, Jane e Peter espreitam pela janela, entre as cortinas, em bicos de pés. E, na quinta, suspense, ouve-se um carro, o leiteiro não parece contente, chega o pai, que é alto e parece aborrecido. Ficamos sem saber se este tem mesmo uma arma, mas percebemos que o leiteiro foge do pai. Compreendemos ainda que “Look, Jane, look! Look at the dog! See him run!” provavelmente não indica que Jane e Peter têm um cão e, logo, que o refrão não aponta para uma situação que vai progredindo ao longo do poema, mas sim que o cão é o leiteiro em fuga. Quem preste particular atenção à rima encontra uma relação entre “fun” e “bun”, mas também entre “glum”, “gun” e “run”. 

Aquilo que as crianças vão contando - “I hear a car, Jane. The milkman looks glum” – parece indicar que estas percebem algo sobre o que se está a passar. Contudo, o poema coloca estes dois irmãos numa situação em que perceber as palavras, i.e. conhecer o “reading scheme”, não os ajuda a compreender a situação, pois seria preciso que conhecessem conceitos de pessoas crescidas, como o adultério. O modo como o poema é contado esconde um drama familiar, perceptível pelo pai, cuja paternidade do “bun” que a mãe tem no forno a crescer se torna evidente, pelo carteiro/leiteiro, que se vê forçado a fugir, e pela mãe, que terá de responder pela situação. 

Maria Sequeira Mendes


Maria Sequeira Mendes é professora na FLUL e colabora com o Teatro Cão Solteiro.