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Poemas de antes

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Infant Innocence

Maria S. Mendes

 

Infant Innocence

 

The Grizzly Bear is huge and wild;

He has devoured the infant child.

The infant child is not aware

He has been eaten by the bear.

 

A.E. Housman, “Infant Innocence”, The Penguin Book of Light Verse, ed. Gavin Ewart. London: Penguin Books, 1980. 

 

 

Este poema não deveria ter sido esquecido, pois é um bom poema de bolso, perfeito para ser usado nas mais variadas circunstâncias. Nele, a imagem de um grande urso selvagem opõe-se à pequenez e à inocência da criança. Se uma característica dos animais selvagens é a de terem a tendência para comer aquilo que lhes aparece pela frente, com alguma despreocupação sobre os eventuais problemas éticos que resultam de se matar uma pessoa pequena, as crianças parecem ter a particularidade de compreenderem muito pouco. Assim o indica o uso dos tempos verbais, em que “has been eaten” contrasta com “is not aware”, apontando-se para o facto de, apesar de a criança já ter sido comida pelo urso, continuar sem perceber bem o que lhe aconteceu. Ser comido implica morrer e para isso seria necessário compreender a morte enquanto conceito, algo de que uma criança pequena não é capaz.

O título “Infant Innocence” poderia indicar que só as crianças pequenas são inocentes, mas na verdade o recurso à rima emparelhada, em que “child” rima com “wild”, leva-nos a compreender que o termo também denomina o comportamento do urso. Assim, tanto ursos como bebés parecem ser semelhantes na sua incapacidade de perceberem o que estão a fazer ou o que lhes sucedeu, pelo que tanto comer como ser comido surgem como formas semelhantes de ingenuidade.

A simplicidade formal do poema encobre assim duas posturas morais aparentemente incompatíveis. Refere-se ao modo como aqueles que são enormes e selvagens têm a tendência para se sobrepor aos mais pequenos (e não o deviam mesmo fazer), mas também à forma como os mais pequenos são impotentes perante forças maiores, em que, como acontece à criança neste poema, o ser humano é fraco e incapaz de encontrar um lugar seguro onde seja possível fazer frente aos poderes da Natureza.

Concluindo, entre as boas ocasiões para se citar de modo apropriado o poema de Housman, encontram-se aqueles momentos da vida em que vemos pessoas poderosas manipularem aqueles que não o são. Quando associamos o poema aos poderes de forças maiores do que as do Homem conseguimos alargar o seu sentido e passar a usá-lo também depois de um terramoto, de um tsunami ou de outro desastre natural. Por outro lado, “grizzly” nomeia uma raça de grandes ursos da América do Norte, mas também uma criança que chora demasiado, o que, como todos sabemos, pode ser um bocadinho perturbador. Neste sentido, é possível encontrar alguma justiça na acção abominável do urso, o que significa que o poema pode igualmente ser lido como aviso a uma criança mal comportada.

Maria Sequeira Mendes


Maria Sequeira Mendes é professora na FLUL e colabora com o Teatro Cão Solteiro. Tem particular apreço por poemas tolos.