Vários Emily Dickinson
Maria S. Mendes
Emily Dickinson
I heard a Fly buzz— when I died—
The Stillness in the Room
Was like the Stillness in the Air—
Between the Heaves of Storm—
The Eyes around— had wrung them dry—
And Breaths were gathering firm
For that last Onset— when the King
Be witnessed— in the Room—
I willed my Keepsakes— Signed away
What portion of me be
Assignable— and then it was
There interposed a Fly—
With Blue— uncertain— stumbling
Buzz—Between the light— and me—
And then the Windows failed— and then
I could not see to see—
Of Course—I prayed—
Of Course—I prayed—
And did God Care?
He cared as much as on the Air
A Bird—had stamped her foot—
And cried "Give Me"—
My Reason—Life—
I had not had—but for Yourself—
'Twere better Charity
To leave me in the Atom's Tomb—
Merry, and Nought, and gay, and numb—
Than this smart Misery.
They shut me up in Prose—
They shut me up in Prose—
As when a little Girl
They put me in the Closet—
Because they liked me "still"—
Still! Could themself have peeped—
And seen my Brain—go round— They
might as wise have lodged a Bird For
Treason—in the Pound—
Himself has but to will
And easy as a Star
Abolish his Captivity—
And laugh—No more have I—
“Hope” is the thing with feathers—
“Hope” is the thing with feathers—
That perches in the soul—
And sings the tune without the words—
And never stops—at all—
And sweetest—in the Gale—is heard—
And sore must be the storm—
That could abash the little Bird
That kept so many warm—
I’ve heard it in the chillest land—
And on the strangest Sea—
Yet—never—in Extremity,
It asked a crumb—of me.
Tradução de Margarida Vale de Gato
Zumbiu a Varejeira— quando morri
Nesse sereno Quarto
Como sereno é o Ar
Entre os Capelos do Mar —
Enxutos os Cabos — dos Olhos em roda
E suspensos os Fôlegos
Para o último Ato — entrado
Entre os mais — o Rei no Quarto —
Doei minhas Lembranças — assinei
O que de mim se usa
Em Rubrica— e nisto meteu-se
A Varejeira intrusa
Zumbindo azul — incerta — instante
Entre eu e a Luz — a estremecer —
Cessando as Janelas então — e eu
Não pude ver para ver —
I heard a fly buzz —
Mas Claro— Eu rezei—
E a Deus acaso importou?
Tanto como se lá no Céu
Um Pássaro— batesse o pé—
E gritasse “Dá Cá”—
A minha Razão— a Vida—
Não a tive— senão por Ti—
Mais Caridoso seria
Deixar-me na Tumba do Átomo—
Contente, e Nada, e álacre e Muda
Do que esta vistosa Miséria.
Trancaram-me na Prosa—
Como quando, uma Garota,
Me castigavam no Quarto—
Por me quererem “sossegada”—
Ora! Pudessem eles espreitar—
O meu Cérebro— andar à volta—
Tanto valia encurralarem
Um Pássaro— por Trespasse—
Ele só tem de querer
E com ligeireza de estrela
Abolir seu Cativeiro—
E rir— O mesmo a mim me basta—
A "Esperança" é a coisa com penas—
Que na alma se empoleira—
E canta uma cantiga sem palavras—
E nunca pára— a vida inteira—
E mais doce— na Tormenta— a ouvimos—
E precisava o vento ser sandeu—
Para afligir a Avezinha
Que a tantos aqueceu—
Ouvi-a na mais fria terra—
E no mais estranho mar—
Mas nem no Cabo mais Extreme
Me veio uma côdea esmolar
Margarida Vale de Gato está numa relação aberta com a poesia. É tradutora literária, professora e investigadora na FLUL, nas áreas de Estudos Norte-Americanos e Tradução Literária. Tem publicado ensaios e livros, principalmente sobre Edgar Allan Poe. Publicou poemas em revistas e antologias de repercussões homeopáticas, e os livros Lançamento (Douda Correria, 2016) e Mulher ao Mar (Mariposa Azual, 2010), que já teve uma edição aumentada (2013) e terá futuras.