The Space of the Mandarin Duck
Maria S. Mendes
O Lugar do Pato Mandarim, tradução de João Paulo Esteves da Silva
Ao que parece, no Japão
Aqui há cento e cinquenta anos
A língua amorosa da França
Era tida por chocante.
Tão descarada, tão presumida, tão brutal
A sua violação da atmosfera
Apropriada a uma pessoa.
Eu quero, diziam no Japão,
Esse lugar do pato mandarim,
Aí, junto a ti, ao teu lado.
O pato liminar deliciava-se
Desenvolto enquanto alcoviteiro.
Afastava-se num soslaio terno.
Lugar vazio sem nada,
Meu caro pato, mesmo sem ninguém
E longe, muito longe de outra gente,
Ainda quero o teu lugar.
Que venha o dia em que uma salva dos teus grasnos
Corte o piado aos vândalos da fala
E cale a boca aos de falinhas mansas
Cuja voz engruma com dinheiro e ódio.
The Space of the Mandarin Duck, Christopher Middleton
Apparently in Japan
One century and a half ago
The love-language of France
Was thought to be shocking.
So blatant, so presumptuous, so brutal
Its violation of the atmosphere
Proper to every person.
I covet, they said in Japan,
The space of the mandarin duck,
There, at your side, beside you.
The liminal duck took delight
Breezily as a go-between.
Tender obliquity saw it off.
A space with nothing there,
Dear old duck, even unaccompanied
And far, far away from others,
Still your space I covet.
Come the day when a volley of your quacks
Quells every twittering vandal of speech
And unspeaks the sweet-talker
Whose voice curdles with money and hate.
João Paulo Esteves da Silva (músico, tradutor, poeta). A relação da vida com a poesia divide-se, de facto, em quatro fases. Dos quatro aos 10 anos, fazia versos para diversão da família e visitas, sentindo nestas exibições uma vergonha só comparável à exibição pública forçada das partes genitais. Dos dez aos vinte, descobriu as estratégias e os engenhos que lhe permitiam esconder-se atrás da linguagem e escrever textos surrealistas ou "nonsensicos" onde ninguém o poderia apanhar despido e de emoções à vista. Dos vinte aos trinta entrou num buraco negro à procura da música perdida, pelo que não escreveu uma única linha. Dos trinta em diante, após ter encontrado uma passagem entre a música e a linguagem, vem escrevendo poesia de forma obsessiva, com cada vez menos vergonha, tentando equilibrar o engenho e a nudez emotiva.