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Quarentena

Confinamento

Quarentena

Maria S. Mendes

 Quarentena, tradução de Jorge Sousa Braga

Na pior hora da pior estação
     do pior ano de todo um povo
um homem saiu do albergue com a mulher
e caminhou- caminharam os dois - para norte.

Ela estava doente com a febre da fome e não o conseguia acompanhar.
    Ele levantou-a e colocou-a às costas.
E caminhou assim para oeste, para oeste e para norte,
até ao anoitecer, sob as estrelas geladas.

De manhã, os dois foram encontrados mortos.
    De frio. De fome. Das toxinas de toda uma história.
Mas os pés dela apoiavam-se no esterno dele.
O último calor da sua carne foi o último presente para ela.

Que nenhum poema de amor jamais chegue a este limite.
    Não há aqui lugar para o impreciso
louvor da elegância e da sensualidade do corpo.
Apenas tempo para este inventário impiedoso:

A sua morte no inverno de 1847.
    O que sofreram. E como viveram.
E o que existe entre um homem e uma mulher.
E em que escuridão se pode ver melhor.



Quarentine, Eavan Boland

 

In the worst hour of the worst season

    of the worst year of a whole people

a man set out from the workhouse with his wife.

He was walking—they were both walking—north.

 

She was sick with famine fever and could not keep up.

     He lifted her and put her on his back.

He walked like that west and west and north.

Until at nightfall under freezing stars they arrived.

 

In the morning they were both found dead.

    Of cold. Of hunger. Of the toxins of a whole history.

But her feet were held against his breastbone.

The last heat of his flesh was his last gift to her.

 

Let no love poem ever come to this threshold.

     There is no place here for the inexact

praise of the easy graces and sensuality of the body.

There is only time for this merciless inventory:

 

Their death together in the winter of 1847.

      Also what they suffered. How they lived.

And what there is between a man and woman.

And in which darkness it can best be proved.

 


Eavan Boland nasceu em Dublin, na Irlanda (1944-2020). Ao longo da sua longa carreira tornou-se uma das maiores poetisas da literatura irlandesa. Entre os seus livros encontram-se Night Feed (1982), Outside History (1990), In a Time of Violence (1994), que foi nomeado para o T.S Eliot Award, Against Love Poetry (2001) e New Collected Poems (2008).  

Jorge Sousa Braga nasceu em 1957 em Cervães e concluiu o curso de Medicina da Universidade do Porto em 1981 com a especialidade de Obstetrícia/Ginecologia. Autor de uma vasta obra poética, tem participado também em numerosas antologias, como organizador e/ou tradutor, e tem-se dedicado à escrita de livros infantis. O seu Herbário foi distinguido com o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura Infantil. Recentemente, publicou A Matéria Escura.