Vários, Rui Dias Monteiro
Maria S. Mendes
Os despojos do dia
Os despojos do dia
já são céu
já são terra
à deriva
onde ondas
como desertos ao vento
se misturam entre nós
e roem à costa
Tróia
Helena
perdemos tudo
juntos
Que idiota estou hoje
faço tudo mal
até duvido mal
não sei que vestir
Estarei doente
serei feia
isto não costuma ser um problema
Não tenho roupa de trabalho para os domingos
Tenho tudo cheio de pêlos de cão
mesmo a roupa lavada
Que desespero
A mulher mais bonita do mundo
morreu
E se o foi
o resto é mito
Poema ovo
Quero um poema ovo
que me salve
que me repita
que me diga poder continuar
até ao limite das poucas palavras que conheço
e faça com elas tudo o que entender
mas mantendo-me
mas regular
mas meu
mas comigo
sem nada a perder
com tudo ainda por fazer
embora fosse pouco
Rui Dias Monteiro, Reunião de Pedras (pré-publicação).
Rui Dias Monteiro. Castelo Branco, 1987. Fotógrafo e poeta. Vive e trabalha em Lisboa.
Pós-Graduação em Discursos da Fotografia Contemporânea, Faculdade de Belas-Artes - UL, Lisboa, 2015-2016; Curso Avançado e Projecto Individual de Fotografia no Ar.Co, Lisboa, 2005-2008.
Expõe regularmente desde 2004 e publicou os livros Sob cada erva (STET, 2014) e Fazer fogo à noite (não edições, 2014). Em 2015 esteve na Ilha de São Vicente, Cabo Verde, com o apoio da AOJE e da Fundação Calouste Gulbenkian, e participou em 2017 no programa de residência artística da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) em São Paulo, Brasil.
Em 2018 publicará o livro Reunião de pedras (não edições).