Rain on Tin
Maria S. Mendes
Rain on Tin
If I ever get over the bodies of women, I am going to think of the rain,
of waiting under the eaves of an old house
at that moment
when it takes a form like fog.
It makes the mountain vanish.
Then the smell of rain, which is the smell of the earth a plow turns up,
only condensed and refined.
Almost fifty years since thunder rolled
and the nerves woke like secret agents under the skin.
Brazil is where I wanted to live.
The border is not far from here.
Lonely and grateful would be my way to end,
and something for the pain please,
a little purity to sand the rough edges,
a slow downpour from the Dark Ages,
a drizzle from the Pleistocene.
As I dream of the rain’s long body,
I will eliminate from mind all the qualities that rain deletes
and then I will be primed to study rain’s power,
the first drops lightly hallowing,
but now and again a great gallop of the horse of rain
or an explosion of orange-green light.
A simple radiance, it requires no discipline.
Before I knew women, I knew the lonely pleasures of rain.
The mist and then the clearing.
I will listen where the lightning thrills the rooster up a willow,
and my whole life flowing
until I have no choice, only the rain,
and I step into it.
Rodney Jones, “Rain on Tin”, Salvation Blues: One Hundred Poems, 1985-2005.NY: Mariner Books, 2007.
“Rain on Tin” é o último poema de Salvation Blues, de Rodney Jones. Ao lê-lo, começamos por deparar-nos com um título provocador: porque tornaria a felicidade prometida pela salvação alguém melancólico [blue]? O título lembra-me o destino das estrelas brilhantes das comédias shakespearianas (como Beatrice, Rosalind e Portia) que têm de se submeter à ideia de que, apesar dos esforços que dedicaram, com esperteza e charme, à educação dos seus futuros maridos, ficarão condenadas à redenção e ao final feliz que a comédia promete.
“Rain on Tin” abre com um verso longo e surpreendente acerca do fim do desejo, que começa por apresentar a primeira palavra do título do poema: “If I ever get over the love of women, I am going to think of the rain”. Porém, a última palavra do título nunca é mencionada em todo o poema e, portanto, “an old house” faz tudo o que tem de ser feito a esse propósito. O segundo verso do poema reafirma, ou antes, reflecte sobre as condições para reflexão que este poema estabelece, no sentido de iniciar a meditação acerca da chuva: “If I ever get over the love of women, I am going to think of the rain, / of waiting under the eaves of an old house”. Estes dois versos dão início à primeira frase, e o facto de não haver sequer uma sombra do verso inglês habitual, o pentâmetro jâmbico, garante-nos que estamos a ler “verso livre”. Um salpico de anapestos estabelece o ritmo destes versos (ou mesmo um aguaceiro, se isso puder ser experienciado em apenas dois versos). Contudo, antes do final da primeira frase, os dois versos seguintes tornam-se ainda mais curtos do que o primeiro. Depois, de modo resumido, a segunda frase diz-nos algo sobre o poder da forma amorfa ou irregular: “It can make the mountains vanish.” O estado de espírito é reflexivo e descontraído, embora a dicção e a sintaxe sejam agitadas. “Rain on Tin” está escrito em verso e, por isso, deve ser um poema, mas a agitação faz dele poesia.
O primeiro verso partilha com o sexto a distinção de ser o mais longo do poema: “Then the smell of the rain, which is the smell of the earth that the plow turns up.” Ambos apontam para a volúpia e para o desejo que o poema põe em palavras, enquanto condição cardíaca de que todos padecemos. O poema também nos explica quando se apoderou aquele estado de espírito pela primeira vez o narrador: “Almost fifty years since the thunder rolled / and the nerves woke like secret agents under the skin.” Quando há trovões, os raios não podem estar longe, mas este poema pratica uma atenção paciente. Pelo seu exemplo, tornamo-nos capazes. Podemos esperar até que ele nos apresente o carácter sugestivo da primeira metáfora e fale de escutar “where the lightning thrills the rooster up a willow.”
Estas palavras marcantes são outra das glórias que o poema usa para inspirar honestidade, pelo menos neste leitor, acerca da finitude humana e da coragem que é precisa para, vagamente, compreender e enfrentar a perspectiva do fim do desejo (dir-se-ia que são o o seu ponto final parágrafo). O narrador destes versos convida-nos a que nos juntemos a ele, no seu último compromisso: “I will listen where the lightning thrills the rooster up a willow, / and my whole life flowing / until I have no choice, only the rain, / and I will step into it.”
Lawrence Rhu
Tradução de Maria Rita Furtado
Lawrence Rhu é professor na University of South Carolina e autor de Stanley Cavell’s American Dream, entre outros livros.