Entrevista a Yeng Pway Ngon
Maria S. Mendes
Entrevista a Yeng Pway Ngon
1 de Setembro de 2018
Yeng Pway Ngon venceu o Cultural Medallion for Literature em 2003. Publicou 26 livros de poesia, romances, ensaios, peças e crítica literária em Chinês. Em 2013, ensinou romance e conto no departamento de Língua Chinesa da Nanyang Technological University no Chinese-Writing-Residency Project. No mesmo ano, recebeu o South-east Asia Write Award (SEA Write Award).Pway Ngon recebeu ainda o National Book Development Council's Book Award em 1987-88, e foi vencedor do Singapore Literature Prize em 2004, 2008 e 2012. A sua poesia e os seus romances foram traduzidos para Inglês e Italiano.
JF: Quando começou a escrever?
Comecei a escrever muito cedo, quando tinha 14 anos. Escrevia contos e poemas. Em 1960, havia muitas livrarias que vendiam livros de Taiwan, e li muitos contos e romances de escritores taiwaneses. Mais tarde, escrevi também ensaios e peças.
JF: Escreve diariamente?
Nos anos 80, tinha uma coluna de comentário social, e por isso tinha de escrever todos os dias. Às vezes, escrevia poesia. Quando parei a coluna, comecei a escrever o meu primeiro romance, A Man Like Me, aquele com que recebi um prémio. Um romance demora muito tempo a escrever, é sempre difícil.
JF: Preocupou-se com a censura?
Não. Pensei sempre que, se não conseguisse publicar em Singapura, publicava noutro lado, por exemplo em Taiwan. A maior parte dos meus romances são lá publicados. Mais tarde, e como tenho muitos leitores, muitos dos meus livros começaram a ser publicados também em Singapura. Em Taiwan, usam-se caracteres complexos, e não os caracteres simplificados da China continental, e é por isso que eu prefiro publicar em Taiwan.
JF: Como escritor, o que é mais importante para si?
Uma mente livre. Além desta liberdade, também temos de ter a coragem de expressar o nosso pensamento. E não nos podemos preocupar se o nosso livro vende ou não.
JF: Ouvi dizer que o detiveram em 1977 por quase quatro meses.
Ah, sim, isso é verdade. Foi numa operação em que detiveram vários suspeitos de comunismo, e eu fui detido com um grupo de outras pessoas. Tinha um amigo próximo que era comunista, e o governo suspeitava de que ele me tinha recrutado para a organização por causa da nossa amizade. Foi ilibado e depois libertaram-me.
JF: Menciona vários escritores em Taiwan que tiveram uma influência importante na sua escrita.
Escritores como Ya Hsien e Yang Mu tiveram uma forte influência na minha poesia. Mas houve também muitos escritores ocidentais que influenciaram os meus romances. Costumo ler Saul Bellow e Italo Calvino traduzidos para chinês. T.S. Eliot e Rilke deram-me inspiração para escrever poesia. Também leio Saramago e o escritor turco Orhan Pamuk.
JF: Preocupa-se com a forma e a rima quando escreve um poema?
Todos os poemas devem ter uma forma, uma estrutura e um ritmo interno.
JF: Como é que trabalha tendo presentes o ritmo e a estrutura?
É algo que vou sentindo enquando escrevo.
JF: A natureza sobressai muito nos seus poemas, as imagens de leopardos, flores, árvores e o mar.
Gostava de falar de um poema chamado In the Tree. Foi inspirado por Calvino. Neste poema, a árvore é uma metáfora. Gosto da solidez das árvores, as árvores transmitem uma sensação de tempo.
O oceano é um outro aspeto da natureza que também aparece em alguns dos meus poemas. Singapura tem-se expandido por recuperação de terra ao mar, e o sítio onde eu vivia quando era pequeno já não existe.
JF: Sente nostalgia por um passado que já não volta?
Sim.
JF: Há alguma coisa que odeie na poesia? Poder ser um cliché ou uma figura de estilo?
Detesto a mentira. A poesia deve inspirar-se nas experiências da vida real. Se aquilo que expressamos nos poemas não são os nossos sentimentos reais, então não estamos a ser verdadeiros.
Tradução da entrevista por Rita Faria