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Standing Furthest

Confinamento

Standing Furthest

Maria S. Mendes

 

Standing Furthest

 

            All day I have done nothing.

To admonish me a few aspen

jostle beneath puny stars.

I suppose in a rainforest

a draft of hands brought in

the tubers for today, women

scratched their breasts in the sunlight

and smiled:      someone somewhere

heard the gossip of exotic birds

and passed it on in the night

to another, sleeping curled like an ear:

of all things standing furthest                                                           

from what is real, stand these trees

shaking with dispensable joy,

or those in their isolation

shading an extraordinary secret.

 

Mary Ruefle, “Standing Furthest”, Selected Poems. New York: Wave Books, 2010.

 

O início do poema “Standing Furthest” de Mary Ruefle é capaz de soar familiar a quem esteja a ter dificuldades em ser produtivo durante o isolamento: “All day I have done nothing”. A ordem do primeiro verso é importante. Na verdade, “I have done nothing all day” seria a forma mais natural para expressar a ideia da frase. Ao inverter a ordem, Ruefle enfatiza o intervalo temporal entre “all” e “nothing” – que são eles próprios, por sua vez, opostos. Porém evitaria chamar a “Standing Furthest” um hino ao ócio, apesar do tom afirmativo do primeiro verso. Há, pelo contrário, um sentimento de culpa inerente à descrição que Ruefle faz das árvores que se encontram lá fora: “To admonish me a few aspen/ jostle beneath puny stars”. Os “aspen” movem-se violentamente (“jostle”), não por causa do vento, mas para censurar Ruefle por não ter feito nada todo o dia.

A progressão imaginativa em “Standing Furthest” torna-se explícita. A frase que começa por “I suppose” transborda, o que significa que tudo o resto, do quarto ao último verso, é uma suposição. O acotovelar dos álamos dá lugar a outras formas de movimento: mãos que levam tubérculos; mulheres que coçam os seios; sorrisos. O espaço em branco na página assinala a transição entre partes do corpo que se movimentam e o movimento de sons: “someone somewhere/ heard the gossip of exotic birds/ and passed it on to the night”. Existe uma tensão entre a assonância das sibilantes, que confere um sentido de segredo aos sons dos mexericos, e o facto de os mexericos não serem ouvidos por mero acaso, mas ouvidos sem cerimónia. O poema torna-se menos preciso à medida que o seu movimento imaginativo se vai tornando mais ostensivo: a frase que se inicia com uma suposição descarada (“I suppose”), foca-se em partes desconectas do corpo, menciona um local e uma pessoa indeterminados (“someone somewhere”), as aves exóticas não são identificadas, e o mesmo ocorre com os mexericos escutados e a floresta onde tudo isto acontece. É como se a imaginação se ganhasse graças à perda de detalhes. Assumir que os sons incompreensíveis produzidos por aves exóticas são “mexericos”, é um salto imaginativo semelhante a pensar que as árvores se movem com o propósito de admoestar a poetisa, embora os mexericos não lhe sejam necessariamente direccionados. O som dos mexericos reverbera até encontrar um corpo adormecido, cuja forma encaracolada imita a de um ouvido. Esta também pode ser uma descrição do funcionamento dos poemas: são como mexericos, isto é, pensamentos imaginados que se movem do isolamento da mente do poeta até aos ouvidos dos seus leitores.

As suposições da poetisa, ao contrário dos rumores, continuam. De entre tudo o que está “standing furthest/ from what is real, stand these trees”. Se o verso terminasse aqui, o poema teria regressado à verosimilhança do verso de abertura (“All day I have done nothing”). Todavia ressurge um movimento ostensivamente imaginativo, uma vez que as árvores se sacodem “with dispensable joy”. Esta descrição não soa à violência do “jostle” inicial. No entanto, as árvores não se acotovelam para repreender poetas, nem se sacodem com alegria dispensável. O uso do termo “dispensable” serve, de facto, para nos lembrar que a sua alegria é, tal como a sua ira, um acrescento poético. Além do mais, nada indica que as árvores estejam a ser observadas no momento da descrição. A possibilidade do movimento das árvores – violento ou alegre – é, assim, tão real como a ideia de haver pessoas em florestas tropicais que equilibram tubérculos nas mãos. A lista de suposições prossegue: “or those in their isolation/ shading an extraordinary secret”. A conjunção “ou” separa as árvores que “shake” das que “shade”. Apesar de “those that shade” se poder referir a árvores imóveis, também pode referir-se a pessoas em isolamento, que escondem um segredo extraordinário: a própria poetisa. O facto de as árvores que tremem com “dispensable joy” e “those in their isolation” constituírem  “things standing furthest/ from what is real” intensifica a sugestão de que são criações da imaginação. 

Nesta altura vale a pena regressar ao primeiro verso: “All day I have done nothing”. O dia parece ter sido preenchido não por movimentos “reais”, como ir buscar tubérculos, mas por coisas imaginadas que estão “Standing Furthest” do que é real. A poetisa pode não ter feito nada de prático, mas imaginar coisas foi precisamente o que levou à concretização de “Standing Furthest”. Estas são notícias reconfortantes em tempos desafiantes: não precisamos de sair de casa para imaginar o que permanece mais longe do que é real. Uma imaginação activa é o único requisito para que existam florestas exóticas e árvores julgadoras. Com sorte, talvez até cheguemos a um poema, tal como fez Mary Ruefle.

 

Inês Rosa


Inês Rosa é doutoranda no Programa em Teoria da Literatura (FLUL). O seu interesse por poesia começou cedo, com os sonetos de Shakespeare, mas foi em Cambridge que, entre bolos e chá, começou a falar e a escrever sobre poemas em geral, e sobre os de Wordsworth em particular.