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After the Rain

Poemas de antes

After the Rain

Sara Carvalho

 

After the Rain

    The barbed-wire fences rust
As their cedar uprights blacken
After a night of rain. 
Some early, innocent lust
Gets me outdoors to smell
The teasle, the pelted bracken, 
The cold, mossed-over well, 
Rank with its iron chain, 


    And takes me off for a stroll. 
Wetness has taken over. 
From drain and creeper twine
It’s runnelled and trenched and edged
A pebbled serpentine
Secretly, as though pledged
To attain a difficult goal
And join some important river. 


    The air is a smear of ashes
With a cool taste of coins. 
Stiff among misty washes, 
The trees are as black as wicks, 
Silent, detached and old. 
A pallor undermines
Some damp and swollen sticks. 
The woods are rich with mould. 


    How even and pure this light! 
All things stand on their own, 
Equal and shadowless, 
In a world gone pale and neuter, 
Yet riddled with fresh delight. 
The heart of every stone
Conceals a toad, and the grass
Shines with a douse of pewter. 


    Somewhere a branch rustles
With the life of squirrels or birds, 
Some life that is quick and right. 
This queer, delicious bareness, 
This plain, uniform light, 
In which both elms and thistles, 
Grass, boulders, even words, 
Speak for a Spartan fairness, 

    Might, as I think it over, 
Speak in a form of signs, 
If only one could know
All of its hidden tricks, 
Saying that I must go
With a cool taste of coins
To join some important river, 
Some damp and swollen Styx. 


    Yet what puzzles me the most
Is my unwavering taste
For these dim, weathery ghosts, 
And how, from the very first, 
An early, innocent lust
Delighted in such wastes, 
Sought with a reckless thirst
A light so pure and just.

 

Anthony Hecht, “After the Rain”, The New Yorker, September 9, 1972.

 

No Festival de Poesia de Palm Beach há sempre um painel sobre Poemas que Encantam, no qual cada poeta da faculdade explica por que é o poema escolhido um dos seus favoritos. Carl Philips discutiu “To the Harbormaster”, de Frank O’Hara, e Rodney Jones escolheu “Race”, de Elizabeth Alexander. Estas escolhas tinham especial importância para mim, porque tinha participado nos seus workshops. Terrance Hayes discutiu “My Father’s Love Letters”, de Yusef Kumunyakaa, à luz de “Those Winter Sundays”, de Robert Hayden, e revelou-me a sua filiação literária. Talvez o “encanto” inspire uma boa resposta, pelo menos assim o espero, porque essa reação define o que eu sinto em relação a “After the Rain”, de Anthony Hecht.

Pergunto-me, ainda assim, como poderei analisar este poema de uma forma que faça justiça à sua beleza formal e à profundidade da sua ressonância? O tom de Hecht faz vibrar cordas de sentido e sentimento que me fazem atribuir dignidade e valor à natureza humana e ao mundo, tal como os encontramos. Espero poder partilhar estes sentimentos, cuja realidade Hecht relembra, e conseguir identificar momentos felizes nestes versos de modo a fazer-lhes justiça.

O poema descreve o aspecto das coisas comuns do campo à luz do sol, depois de a chuva ter deixado o céu limpo. Nesse momento, a flora e a fauna, uma cerca e a água a escoar convertem-se numa alegoria do poeta sobre a sua vida moral e aspirações. As observações de Hecht compõem o fundamento de uma metafísica da moral em sete oitavas rimadas. Mas quem haveria de querer dizer semelhante coisa perante a simplicidade evidente deste poema, onde se reconhece a finitude humana e se abraça a nossa condição como se fosse um habitat em que a justiça e a esperança se possam sentir em casa.

A dicção e rimas de Hecht revelam uma precisão imaginativa e uma pertinência que ressoa noutros mundos – Espartanos, o Rio Estige, um fresco sabor a moedas – tornando mais profunda a intuição que temos daquilo que está à mão. A especificidade dos cardos e dos fetos – enquanto palavras e coisas – descreve uma paisagem que resiste a tornar-se uma paisagem interior com demasiada facilidade, de modo que as coisas deste mundo só se representam a si mesmas. A obstinação de realidades como esta lembra-nos de quem precisa realmentede mudar, e pode ajudar-nos a recuperar o norte, ao redescobrirmos nada mais, nada menos, do que o Eu que talvez tenhamos esquecido ou abandonado – “esta sabedoria primária”, nas palavras de Emerson, “o último facto para lá do qual a análise não pode ir”.

Para além da dicção e da rima, o ritmo e a métrica produzem um efeito musical e pleno de sentido. Fazem-no melhor quando em tensão um com o outro, por exemplo no verso em que um anapesto substitui um jambo no segundo pé – “It’s runnelled and trenched and edged” – seguido pela regularidade do verso subsequente – “A pebbled serpentine” – e pelo troqueu no primeiro pé do verso seguinte – “Secretly, as though pledged”.

Nos versos curtos e rigorosamente rimados de Hecht, estes efeitos rítmicos ocorrem de forma notável na frase. O primeiro verso da segunda oitava termina uma frase que começara cinco versos antes. Esta cadência protela dramaticamente o desfecho até à oitava seguinte. Que contraste com os versos de uma só frase que terminam a terceira estrofe e iniciam a quarta! Apesar do respeito para com a estrofe, a rima e a métrica, a sintaxe rigorosamente controlada de Hecht depressa rompe com os seus limites. Uma frase de treze versos a ligar duas oitavas precede a oitava final, que consiste numa única frase. Há regras e há formas, e depois há a dança. Ou é o dançarino que escapa à sua rigorosa observação? Eis então que o pródigo torna a uma casa de som e sentido.

Larry Rhu

Tradução de Miguel Ramalhete Gomes


Larry Rhu é professor na University of South Carolina e autor de Stanley Cavell’s American Dream, entre outros livros.