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Hummingbird

Poemas de antes

Hummingbird

joana meirim

 

Hummingbird

For Tess

 

Suppose I say summer,

write the word “hummingbird,”

put it in an envelope,

take it down the hill

to the box. When you open

my letter you will recall

those days and how much,

just how much, I love you.

 

Raymond Carver, “Hummingbird”, A New Path to the Waterfall (1989). All of Us — The Collected Poems. Londres: The Harvill Press, 2003.

 

O título e a dedicatória do poema são, respectivamente, o conteúdo e a destinatária da carta que o poema descreve; o poema não é a carta.

A carta contém uma única palavra, a forma escrita de uma outra palavra que o poeta diz — ele diz Verão e escreve “colibri”. O desfasamento entre o que se diz, ou pensa, e o que se escreve é familiar, mas, aqui, é propositado e visa um efeito. Com a palavra “colibri”, o poeta pretende suscitar na destinatária da carta a lembrança de certos dias e fazer com que ela se lembre do que o poeta sente por ela.

Escrever uma carta costuma significar que entre remetente e destinatário há separação. Contudo, o poeta diz que levaria a carta até à caixa de correio no sopé da colina, não a uma estação de correio. Há uma proximidade física entre ambos revelada no conhecimento da rotina implícita na descrição dos movimentos dela: ele sabe que ela está ausente, que regressará e quando, visto que terá tempo de escrever a carta, e que, ao regressar, ela abrirá a caixa do correio e verá a carta. A separação não é a que se supôs.

A separação a corrigir pode não ser de natureza física, mas existe: se é preciso que a destinatária se recorde de dias passados, então os dias presentes ficam aquém. O conteúdo da carta visa o reencontro — “colibri” refere um momento específico partilhado, que por sua vez corresponde a um sentimento também reconhecível pelos dois. O poeta conhece a destinatária bem o suficiente para saber que provocará nela o efeito desejado, sem mal-entendidos.

Mas o poema começa com uma conjectura. O poeta não disse Verão nem escreveu “colibri” a não ser no poema. Nenhum envelope foi levado até à caixa de correio no sopé da colina ou aberto por aquela a quem se destinava. Contudo, o efeito descrito é alcançado; não porque a destinatária possa vir a ler o poema, mas porque o poema o concretiza. A inexistência de mal-entendidos é uma certeza não pelo grau de conhecimento do poeta acerca da destinatária da carta hipotética, mas porque o poema a torna inegável.

A carta está para o poema como Verão está para “colibri”; a conjectura do primeiro verso é a carta, o poema é real; a carta seria privada, o poema é público. Numa visita a Paris, Carver e o filho, Vance, visitam o cemitério de Montparnasse. Ao ver um segurança, Carver pede ao filho, fluente em francês, que pergunte o que é preciso fazer para se ser enterrado ali. O guarda responde que o cemitério está lotado. O episódio tem um carácter anedótico, mas Carver falava a sério. Só o poema daria a Carver o reconhecimento por que ansiava — não seria uma carta de amor a garantir-lhe o lugar num Montparnasse sem vagas.

 

Helena Carneiro


Helena Carneiro fez o mestrado no Programa em Teoria da Literatura (FLUL). É redactora e assistente editorial na Imprensa da Universidade de Lisboa. Tem tido quem lhe explique poesia e gosta muito de Philip Larkin, que na sua lápide preferiu ser denominado “escritor”.