Un Soneto me manda hacer Violante
Nuno Amado
Este poema não devia ter sido esquecido porque recorda algo que frequentemente se esquece: que um poema é, antes de tudo o resto, um poema.
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Este poema não devia ter sido esquecido porque recorda algo que frequentemente se esquece: que um poema é, antes de tudo o resto, um poema.
Read MoreEste poema não devia ser esquecido porque, para além da admirável construção imagética que o caracteriza, se debruça de uma forma peculiar sobre uma das motivações principais para a existência de violência entre grupos de seres humanos: uma espécie de hábito mental que classifica o outro através da sua inserção em categorias pré-existentes, negando-lhe a sua individualidade.
Read MoreEste poema não devia ter sido esquecido porque é uma representação poética virtuosa daquela sedução que consiste em dar aos olhos aquilo que se nega a “cobiçosas mãos”. Os conhecedores d’ Os Lusíadas já terão percebido que aludo ao jogo de sedução existente entre as Ninfas e os marinheiros na Ilha dos Amores. De qualquer uma das Ninfas se pode dizer o que Noronha diz sobre a donzela do seu poema, no que toca à tentativa de escapar ao desejo do namorado: “Não foge por fugir, que se fugira, / tão depressa alcançar se não deixara.” O poema parece assentar numa relação pouco harmoniosa entre os gestos impetuosos do namorado e as recusas fingidas da namorada, uma vez que estas últimas têm mais expressão no poema do que os momentos em que ambos se unem fisicamente. Aparentemente, até ao momento em que a namorada, fingindo “com ânimo brando uma alta ira”, morde a mão do amante, não há provas de qualquer contacto de natureza física. Mas só aparentemente! Uma leitura atenta revela que o poema é, desde o início, uma descrição perfeita daquele som que se ouvia na Ilha dos Amores, um “mimoso choro”, e que, por isso, é mais harmonioso do que parece.
É fácil constatar que o poema está recheado de aliterações refinadas, como a do segundo verso do soneto (“um fingindo fugir da doce dama” que, na verdade, é antecedida pelo “firme” do primeiro verso e se prolonga com o “dizem” do verso seguinte), e que Noronha deu uma atenção especial à sonoridade desta sua composição. Onde esta atenção se torna particularmente evidente é na anáfora com a palavra “um”, que, aliás, não se encontra sonoramente muito distante do “quão” que abre o poema. Sendo assim, a repetição da palavra “um” tem um propósito maior do que fazer uma enumeração sequencial dos gestos existentes neste encontro amoroso. A repetição do som [ũ] visa representar os gemidos dos amantes ao longo do poema, envolvendo, assim, o leitor numa trama onomatopaica que torna mais interessante a sequência dos gestos relatados. Não se pense, contudo, que este som é o único que visa representar o “mimoso choro” dos amantes, pois essa é também a função da interjeição “ai!” tantas vezes gritada. Esta interjeição parece somente dar expressão ao medo que a namorada tem das investidas do namorado ou ao receio de ser ouvida e julgada por terceiros: “Um ai que nos ouviram! Que é pecado!”. Porém, tendo em conta a arte de sedução desta namorada, ou seja, a lógica do poema, é possível interpretar “que nos ouviram! Que é pecado!” não como a verbalização sincera dos receios da donzela, mas como uma tentativa de disfarçar o gemido genuíno que soltara. Através do seu som, o poema torna-se harmonioso, pois revela as carícias trocadas entre as recusas bradadas. Na poesia não são só os olhos que também comem.
Jorge Almeida
Jorge Almeida é licenciado em Estudos Portugueses e doutorando no Programa em Teoria da Literatura (FLUL). Escreve crítica literária no Observador. Sabe de cor um poema de Cesário Verde e versos avulso de outros poetas, mesmo não se tendo esforçado para que isso acontecesse.