Entrevista a Gwee Li Sui
Maria S. Mendes
Entrevista a Gwee Li Sui
Singapura, 4 de Setembro de 2018
Gwee Li Sui é poeta, ilustrador e crítico literário. A sua obra poética inclui Who Wants to Buy a Book of Poems? (1998), One Thousand and One Nights (2014), Who Wants to Buy an Expanded Edition of a Book of Poems? (2015), The Other Merlion and Friends (2015), Haikuku (2017), e Death Wish (2017). Escreveu o primeiro romance gráfico de Singapura Myth of the Stone, que foi publicado em 2013. Gwee editou importantes antologias literárias. Também é o autor de FEAR NO POETRY!: An Essential Guide to Close Reading(2014) e Spiaking Singlish: A Companion to How Singaporeans Communicate (2017).
JF: Como é que te relacionas com o chinês enquanto língua?
Leio em inglês; o meu chinês não é muito bom. Andei numa escola do 2.º ciclo que não tinha um bom ensino de chinês, ou pelo menos era essa a reputação de que gozava. A pressão de grupo levou-nos todos a sermos maus nesse domínio. [Risos.] Posto isto, infelizmente tenho vergonha de o meu chinês ser mau.
JF: Os teus pais falam mandarim?
Não sei se sabes muito sobre Singapura...
JF: Ando a ler as entrevistas do vosso primeiro primeiro-ministro. É difícil entender Singapura.
Durante a minha infância e juventude, nos anos 70 e 80, o estado decidiu pôr de lado os dialectos chineses. Deixaram de ser ouvidos na rádio ou na TV. E também os retiraram do uso casual nas escolas. O mandarim tornou-se a língua chinesa oficial e os outros dialectos foram suprimidos. Os meus pais não sabem falar mandarim; falam teochew, que é a língua que eu uso com a minha família. Fora de casa, falo inglês ou mandarim. É isto que acontece com muitas famílias chinesas.
JF: Mas, apesar disso, a tua poesia é influenciada pelo chinês.
As influências chinesas chegam-me da minha família, das histórias que as minhas avós e a minha mãe me contavam. O teochew tem os seus próprios ritmos. Cada língua tem os seus ritmos, e os nossos poetas brincam com isso e partem do princípio que as pessoas os conseguem reconhecer. O teochew é uma língua com qualquer coisa de ameno. Mesmo quando os falantes estão a zombar de alguma coisa, fazem-no com gentileza, e acho que a minha poesia espelha isto. Não é abertamente sarcástica. É terna, é humana.
JF: Parece haver um fosso educacional, um fosso profissional. Estão a educar as crianças para serem estrangeiros no seu próprio país.
Isso é verdade. O apagamento explica muito sobre Singapura. A atenção dada ao passado desaparece, e as pessoas têm poucos identificadores históricos e culturais. Daqui resulta uma espécie de amnésia e isso é muito natural. O fosso geracional é muito acentuado.
JF: Falam sobre o passado?
Há uma tendência para parecer nostálgico porque o nosso passado se perdeu. A nossa forma de preservar as coisas é aterrorizante. Por exemplo, temos algo que se chama o Singapore Memory Project. Há alguns anos, começaram a recolher depoimentos orais e fotografias e a digitalizar tudo. Agora possuímos um enorme arquivo digital do passado, mas isto ocorre paralelamente com uma destruição física do passado. A contradição revela a desconexão. O respeito pelo passado não é suficiente para o preservar, apenas para manter um registo dele.
JF: Tal como descreves em ‘Cognitive Gap’?
Sim, Singapura é um país de ironias. ‘Cognitive Gap’ foi um dos primeiros poemas que li em público e, quando isso aconteceu, as pessoas riram-se a sério. Mas a verdadeira ironia é que ainda não parámos para pensar por que as coisas deveriam ser diferentes.
JF: Singapura ainda é vista como um exemplo. Em Portugal, durante a recessão ouvimos falar muito de Singapura. Foi muitas vezes dada como um exemplo a seguir.
De certa forma, temos a sorte de possuir um certo tipo de liderança, mas isso torna o país vulnerável porque há muito que depende dessa liderança. Noutros países, tudo se alicerça na questão dos direitos humanos. Aqui, tudo depende da racionalidade da liderança. Num momento qualquer do futuro, alguém pode tornar-se egoísta e trabalhar para satisfazer os seus interesses – quem vai parar esta pessoa? Neste momento, felizmente não temos essa situação, mas facilmente podemos caír nisso.
Singapura coloca um grande ênfase na economia. Pessoalmente não estou seguro de que os ricos venham a ajudar suficientemente os pobres. Temos de nos concentrar mais no e estar mais preocupados com o nosso elevado custo de vida. Por exemplo, durante imenso tempo, ninguém falava sobre o tema da pobreza. Há dez anos, as pessoas diriam que não havia pobreza em Singapura, quando não era esse o caso. Estava escondida debaixo do tapete. Se se encontrassem sem-abrigos na rua, as autoridades pegavam neles e colocavam-nos em alojamentos temporários. Era uma forma de escape. Mas é assim que as coisas são feitas. Limpamos as ruas, mas isso não quer dizer que não haja gente pobre.
JF: Toda a gente comenta que não se vê pobreza em Singapura.
Podemos abordar a questão olhando para as linhas do metropolitano. Na forma como chegam aos locais agradáveis de Singapura, são um indicador das tendências do desenvolvimento. As zonas pobres, as zonas subdesenvolvidas, estão fora das linhas do metropolitano; estão fora de alcance. Assim, vemos uma Singapura diferente quando nos deslocamos de carro ou a pé. Eu uso os transportes públicos mas também tento explorar a cidade a pé. Há muitos lugares escondidos, e os comboios não nos dão esta sensação de realidade concreta. Uma estação de comboio está onde está porque essa zona vai ser desenvolvida em breve ou porque já foi desenvolvida.
JF: As zonas pobres atravessam a Singapura ideal?
Em Singapura, temos tudodentroda cidade. Descobri isto quando estava a trabalhar num projecto; tinha de falar com pessoas idosas e perceber se tinham alguém que tomasse conta delas. Uma assistente social enviou-me para um lugar mesmo à saída de Chinatown. Há muitas zonas assim que acabam por ser esquecidas. As pessoas, como não trabalham, passam ali tempo durante o dia. São pessoas que vêm de um certo grupo demográfico.
Fui ajudar com a distribuição de comida e perceber o que se passava. Vi todas estas pessoas virem buscar comida. Pense na ironia: do outro lado da estrada, temos a área Robertson Quay, com um aspecto tão rico e desenvolvido. Mas aqui estava uma realidade diferente que nem eu conhecia. Fica escondida entre a auto-estrada e o rio, um espaço intersticial que é o espaço invisível perfeito. Tudo o que é preciso para lá chegar é atravessar algumas estradas, mas ninguém o faz. Existem espaços como este; as pessoas podem não os ver, mas eles existem.
JF: A disparidade económica é uma disparidade étnica?
Esse é um tópico sensível em Singapura porque nós tentamos não tornar a raça num assunto. Mas é verdade que certos grupos étnicos são, em geral, mais pobres do que outros. O lado positivo do nosso sistema é que, apesar disso, tentamos não tornar a disparidade numa questão essencialista. Mas o ressentimento mantém-se.
JF: E a educação?
A educação éo grande fosso. Provavelmente já leste sobre o problema de os ricos terem mais acesso à educação do que os pobres. Não só inscrevem os filhos na escola como se organizam para que eles tenham explicações.
JF: Parece que se passa o mesmo em todo lado.
É uma triste realidade que estamos a tentar reconhecer e solucionar. Não sei se, em Portugal, têm o conceito de ser um kiasu. Talvez tenhas lido sobre isto na minha poesia, que tem secções em Singlish.
JF: Sim, queria fazer-te perguntas sobre isso.
Há pouco tempo, escrevi um livro em Singlish que entretanto se tornou um êxito de vendas. É um livro que me deixa bastante orgulhoso porque é o primeiro livro sobre Singlish escrito em Singlish. [Risos.] Achei que seria o método lógico, certo?
JF: Não sou falante nativa de inglês e, quando comecei a ler os teus poemas, achei estranho que não rimassem onde deviam rimar. Depois tentei lê-los com pronúncias diferentes e, de repente, tudo fez sentido. [Risos.]
[Risos.] Sim, nos meus livros humorísticos faço muito isso. Kiasué uma palavra do dialecto chinês Hokkien que significa “com medo de perder”. Em Singapura, temos este espírito de competição arreigado, que descrevemos com o termo kiasu. Na verdade, trata-se da nossa contribuição para o Oxford English Dictionary. É muito caracteristicamente singapurense.
Temos um medo constante que, se não comermos um bolo, alguém fique com ele. Temos de estar sempre na dianteira. Não sei ao certo de onde vem esta mentalidade. Em parte é uma mentalidade do pós-guerra, em parte é uma mentalidade capitalista. Ou então não é mais que o egoísmo humano. Sentes que ninguém te está a proteger, então tens de te proteger a ti mesmo.
JF: Voltemos aos teus poemas. Parece-me que o último verso está em conflicto com o resto do poema. Por exemplo, nos poemas humorísticos, o último verso ou dístico funciona muitas vezes como um remate, uma punchline. Nos teus poemas, o último verso parece ir na direcção oposta; é tranquilo, desvia o poema. Se calhar estou enganada...
Depende do livro a que te referes. O primeiro, Who Wants to Buy a Book of Poems?,saiu em 1998, numa altura em que a minha editora não tinha confiança em publicar livros de poesia. Tinha publicado principalmente ficção. Hoje em dia parece mentira, basta olhar para as prateleiras das livrarias, mas nos anos 90 a poesia estava moribunda neste país. As pessoas especulavam sobre a morte da poesia. Parecia ser um género demasiado auto-indulgente e que não caminhava para lado nenhum.
A minha editora aceitou um risco com o meu manuscrito e os de dois outros poetas. Dentre os nossos poemas, escolheu aqueles poemas que considerava aguentarem-se melhor em conjunto. Não fiquei muito contente com isso, mas ela estava disposta a publicar o meu trabalho, e eu era jovem. O livro foi escrito quanto estava no primeiro da faculdade. Nós, os três, éramos muito diferentes: Alfian Sa’at escrevia poemas muito irados enquanto Felix Cheong, naquela altura, escrevia emotivos poemas existenciais. Eu era só um palhaço, estás a ver? [Risos.] De certo modo, consegui existir a um nível escondido porque as pessoas não prestam atenção a poesia humorística. Pude observar as coisas sem ser julgado.
JF: Este livro tem duas versões. Como é que diferem uma da outra?
Na altura respirava-se outro ar, tanto política como socialmente. A minha editora não tinha a certeza se alguns dos poemas deviam ser publicados na forma em que estavam. Falámos muito sobre isso e sobre o que aconteceria se surgissem nas suas formas originais. A nova versão efectivamente recupera o que tínhamos antes. Por exemplo, num dos meus poemas havia um termo racista, mas o poema está a criticar, entre outras coisas, o racismo. A minha editora não tinha a certeza se as pessoas iam compreender; podiam pensar que eu era racista, disse ela. Dezassete anos mais tarde, achei que podíamos voltar à forma original e finalmente expor aquilo. A propósito, dou-lhe razão quando diz que os poemas têm um final contido.
JF: Não estava a criticar, estava apenas…
Sim, era uma observação.
JF: Pareceu-me que o poema fazia a sua autocrítica ao não dar aos leitores aquilo que os eles querem. Ou seja, em vez de uma conclusão grandiloquente, dá-nos um verso que desvia o sentido do poema. Preserva a humildade do poema, mas posso estar enganada. [Risos.]
[Risos.] Não, tens toda a razão. Daí o título Who Wants to Buy a Book of Poems?[“Quem quer comprar um livro de poesia?”] Até me surpreendeu descobrir que o livro tinha uma audiência! Na verdade, há uma geração inteira de miúdos que cresceu com esses poemas.
JF: Isso é outra coisa. Estava a pensar que as pessoas podiam oferecer o livro aos filhos sem perceberem o que estão a dar. É muito subversivo. [Risos.]
Sim, obrigado por dizer isso. [Risos.] Estou sempre a dizer às pessoas: não sei se querem oferecer o meu livro aos vossos filhos. [Risos.] Corresponde ao que o que a minha editora me disse noutros tempos. Apesar de o livro de Alfian ser mais abertamente político, ela achou que o meu é que era o livro mais atrevido. Tão atrevido que as pessoas não percebem o quanto é subversivo! Mas é possível ser-se ligeiro e subversivo. Quando olho para este livro, penso nos anos 90, no que podíamos e não dizer…
JF: E o que tens a dizer sobre The Other Merlion and Friends?
Com este livro, voltei à poesia humorística passados dezassete anos. Pouco depois de Who Wants to Buy a Book of Poems?, tornei-me um académico. Fiz o meu doutoramento em Londres antes de trabalhar durante muitos anos na Universidade Nacional de Singapura. Durante este período, tive imensa vontade de escrever poemas humorísticos, mas não o podia fazer.
JF: É o que o mundo académico nos faz. [Risos.]
É mesmo! Os poemas que escrevi em desespero estão todos no meu último volume, Death Wish. [Risos.] Não deixei de me debater porque não conseguia encontrar a minha voz humorística. Depois de deixar o mundo académico, tinha fragmentos que vieram a formar TheOther Merlion and Friends. De certo modo, é um livro mais negro. Os versos finais são diferentes em termos de circularidade. Aqui são mais fortes; quando eu era jovem era uma pessoa mais branda.
JF: Gosto realmente desses poemas. O modo como a linguagem é lúdica quando, ao mesmo tempo, estás ser muito malicioso. Acho que detectei certas influências…
Stevie Smith. [Risos.]
JF: Bem me pareceu. [Risos.]
Entre esses dois livros, descobri Stevie Smith. No livro anterior, acho que me apoiei em Blake.
JF: Também queria pôr-te perguntas sobre Death Wishporque a influência aqui – e temo estar a sobreinterpretar – parece ser…
Pessoa. [Risos.] Ele está lá. Descobriu-o nos anos 90 e fiquei enfeitiçado. Havia nele o lado filosófico que me agradava. Singapura é uma nação prática, e não somos muito filosóficos. Quando descobri Pessoa, encontrei poesia e filosofia ao mesmo tempo. Pode ver o meu tributo na secção “The Philosopher” de Death Wish.
JF: Sim, também reconheço essa influência nos poemas sobre pensar, ver alguma coisa pela primeira vez, a desconexão entre o eu e a mão que escreve...
Há uma década, tinha um conjunto de vozes que não conseguia reunir num só manuscrito. Não podia usar o humor, mas tinha todas estas vozes que podiam formar um livro mas que não se pareciam encaixar. Tinha um poema muito irado, outro filosófico, outro confuso. Lembra-se como foi quando a Guerra do Iraque de George Bush aconteceu. Toda a gente estava tão zangada.
JF: E nessa altura estavas em Londres.
Estava em Londres quando aconteceu o 11 de Setembro. Quando invadiram o Iraque, já estava em Singapura a começar a trabalhar; era o meu primeiro ano na universidade. Em todo o mundo, as pessoas estavam zangadas e manifestavam-se. Mas, em Singapura, não se passava nada. Organizou-se uma vigília pequena num centro para as artes, só isso. Isso deu-me muito que pensar. Uma coisa é o estado ser assim, outra é os cidadãos…
JF: Podias manifestar-te contra a guerra se quisesses?
Há um Speaker’s Corner; uma pessoa pode inscrever-se na polícia e protestar. A minha voz irada, como Death Wishmostra, dirigiu-se à figura do soldado. Em Singapura, parecia que estávamos a viver na sombra do mundo. Estava tudo a acontecer, e não fizemos nada. Sentia-me muito desiludido, e o mundo académico era o pior lugar para se estar. Era como se estivesse numa torre de marfim dentro de uma torre de marfim.
Neste contexto, um académico não tem nenhum poder. Escrevemos um artigo, publicamo-lo e continuamos a publicar. Podemos esquecer o impacto, ou o não-impacto, do que estamos a fazer. Podemos esquecer o tempo em que é precisamente necessário que sejamos úteis. Tudo o que esperam de nós são números – que é o oposto da razão por que entrei no mundo académico! Todos os dias, estava rodeado por demasiadas pessoas inseguras e os seus jogos. Era um desejo de morte.
JF: Sei bem do que falas.
Não era suposta concentrar-me na literatura singapurense porque desse modo não seria aceite nas publicações mais respeitadas. A minha especialidade é a literatura europeia do século XVIII, mas há sempre alguém a trabalhar em Jonathan Swift ou Jane Austen. Esses escritores não precisam de mim. [Risos.] O meu lado artístico revoltou-se. Planeei a minha saída durante anos. Eles tinham de me despedir se eu optasse por não fazer o que eles queriam. Li e escrevi sobre literatura singapurense. O século XVIII está lá sempre, claro. Pope, Voltaire…
JF: Ah sim, também encontramos Pope nos teus poemas.
[Risos] Sim, ele está lá! Em Singapura, estamos a viver no nosso século XVIII. Estamos a descobrir o espaço cívico, um espaço aberto, que era o que definia a Europa do século XVIII. Trata-se de algo que sinto que tenho de documentar.
JF: Não falámos sobre os teus poemas de amor.
Lamentavelmente, One Thousand and One Nightsé o meu livro de poesia mais famoso. Envolve um relacionamento que durou quase três anos e segue-o do princípio ao fim. O livro no seu todo foi esboçado durante o próprio relacionamento. Criei essa voz exclusivamente para esse volume. As pessoas não param de me pedir que faça mais, mas não consigo escrever outro livro assim. Tudo assenta nas vozes, e as vozes variam. Dou relevo a uma voz a determinada altura ou imagino uma persona. Os leitores não sabem isto; pensam que uma voz e uma pessoa se equivalem.
JF: Quais são os autores singapurenses de que gostas?
As minhas preferências vão para os escritores mais velhos. Como os singapurenses têm má memória, tendemos a esquecer os nossos escritores mais velhos. Celebramos vozes novas. Se ler críticas na Internet, verá que isto é verdade. Falamos imenso das vozes mais jovens e celebramo-las com justeza. Mas esquecemos as pessoas que abriram caminho para elas. São estas que eu mais estimo, os poetas de até ao virar do milénio. Há algum tempo, dei uma série de palestras públicas, que se estendeu ao longo de cinco anos, sobre poetas singapurenses. Quero ser esta memória e erguer as vozes esquecidas.
JF: Também é mais fácil encontrar livros recentes. Tenho tido dificuldade em encontrar livros antigos, como os poemas de amor de Edwin Thumboo. O Cyril Wong referiu-os, mas fui a todo lado e não se encontram.
Sim, as pessoas vêem Thumboo pelo prisma da ideologia e esquecem o seu lado pessoal. Hoje em dia, todos pensam à luz do pós-colonialismo ou do feminismo ou de uma crítica do poder – mas então e o que a poesia é? Isto parece-me deplorável. Acho que estamos a criar uma geração inteira que não aprofunda a relação com a poesia.
JF: É um pouco o que tentamos contrariar com os Jogos Florais. Ninguém quer ler os poemas cuidadosamente e pensar sobre eles.
Sim, no final de contas trata-se de preguiça mental e de escrita preguiçosa.
Tradução da entrevista: João Brandão