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Poemas Gwee Li Sui

Singapura

Poemas Gwee Li Sui

Maria S. Mendes

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Gwee Li Sui usa o “Singlês” para modificar rimas e esquemas rimáticos, obrigando o leitor estrangeiro à experimentação com a entoação para conseguir ouvir rimas. Os seus livros são muito diferentes entre si e neles detecta-se a influência de Stevie Smith, mas também de Fernando Pessoa. Alguns dos seus livros, como Death Wish, têm um tom filosófico, enquanto outros, como Who Wants to Buy an Expanded Edition of a Book of Poems?, ou Merlion and Friends, são erroneamente considerados leves ou brincalhões. Talvez isto explique a razão de a sua poesia se ler muito às crianças de Singapura, sem que as pessoas compreendam a profunda subversão de poemas como ‘Good Laws and Good People’. Ou talvez por isso, afinal os versos bem-humorados de Gwee Li Sui ocultam temas sérios, como a censura e a autoridade estatal. Neste número, falámos com Gwee Li Sui sobre Singapura e a sua pobreza escondida, sobre a influência de Fernando Pessoa, sobre kiasu-ismo e Singlês. Podem ler ‘How to Learn Nothing’ e ‘Good Laws and Good People’ aqui. 


Como Não Aprender Nada, tradução de Miguel Cardoso

 

Diz alguém na missa
que a crise é um tempo de provação
mas já antes ouvi dizer
que os bons tempos são tempos de provação.
Por certo que só aquele que tem falta de provações
passará o seu tempo a falar de provações
uma vez que só quem de medo sobrevive
passa o seu tempo a falar do medo
tal como quem perde o norte 
discorre à toa sobre o rumo a tomar.

How to Learn Nothing, Gwee Li Sui

 

 

Someone says in church
that the recession is a time of trial,
but I have heard before
that the good times were a time of trial.
Surely only those who are in need of trials
go on about trials
since only those who survive on fear
go on about fear
like those who are adrift
babble about directions.

Gwee Li Sui, Death Wish. Singapore: Landmark Books, 2017. 


 Boas Leis e Boas Pessoas, tradução de Miguel Cardoso

 

As boas leis não 
fazem gente boa,
mas boa gente pode fazer
boas leis. 

A boa gente que assim faz
faz assim porque pensa
que boas leis fazem
gente boa,
só que não.  

Na verdade, a boa gente
não precisa de boas leis;
é a gente não-tão-boa
que delas precisa 
e, claro, 
precisa mais delas 
do que a boa gente 
delas precisa.

Mas alguma gente não-tão-boa
pode fazer leis tão boas
como faria a boa gente
embora as boas leis feitas
possam não fazê-las boas.

Mas se as boas leis não
fazem gente boa
e nem sempre são feitas
por boa gente 
para que havemos de nos ralar 
com boas leis
se leis não-tão-boas
servem tão bem,
ou melhor, tão mal?

Boas leis tanto para gente 
boa como gente não-tão-boa
são más leis para 
fazer boa gente.

Por outro lado,
boas leis para boa gente
e não tão boas
para gente não-tão-boa 
serão leis não-tão-boas
porque é
a gente não-tão-boa
que precisa de boas leis
mais do que a gente boa
delas precisa,

como já disse. 

Tal não significa,
contudo,
que boas leis
para gente não-tão-boa
e não-tão-boas
para boa gente
seja boa ideia
pois alguma boa gente
sob leis não-tão-boas
ver-se-á tentada a tornar-se
não-tão-boa gente. 

(embora isto seja
uma boa lei
para fazer leis boas 
pois com menos gente boa
e até mesmo nenhuma,
vai deixar de ser preciso 
leis não-tão-boas
que aí vive toda a gente
só sob boas leis).

Parece então que
leis não-tão-boas,
a seu tempo, 
se tornam boas leis,
mas a boa gente,
a seu tempo, 
se torna estranhamente 
não-tão-boa.

Portanto, não esqueças:
se o que queres é boas leis,
não esperes encontrar 
muita gente boa por perto por muito tempo
e, se o que queres é boa gente,
talvez seja melhor não se pensar
em boas leis,
leis não-tão-boas,
ou sequer como fazer
umas e outras
de todo

porque boas leis
ou não-tão-boas
não fazem gente boa. 

 

 

Good Laws and Good People

 

Good laws don’t
make good people,
but good people can make
good laws. 

Good people who do so
do so because they think
that good laws make
good people,
which they don’t.

In fact, good people
don’t need good laws;
it is not-so-good people
who need them
and, yes,
need them more
than good people
need them. 

But some not-so-good people
can make laws as good
as some good people can
although the good laws made
may not make them good.

But, if good laws don’t
make good people
and they are not always made
by good people, 
then why bother with
good laws
if not-so-good laws
serve as well
or, rather, as badly?

Good laws for both good
and not-so-good people
are bad laws for
making good ones.

On the other hand,
good laws for good people
and not-so-good ones
for not-so-good people
are all not-so-good laws
because it is
not-so-good people
who need good laws
more than good people
need them,

as I have said.

This does not mean,
nonetheless,
that good laws
for not-so-good people
and not-so-good ones
for good people
is a good idea
since some good people
under not-so-good laws
will be tempted to become
not-so-good people

(although this is
a good law
for making good laws
since with fewer good people
and eventually none at all,
there will be no more need
for not-so-good laws
with everyone living
under good laws alone).

 It seems then that
not-so-good laws,
if given some time,
will become good laws,
but good people,
given time,
will strangely become
not-so-good ones.

So always remember:
if you want good laws,
don’t expect to find
good people around for long
and, if you want good people,
perhaps you should not think
about good laws,
not-so-good ones
and how to make
either of them
altogether

because good laws
or not-so-good ones
do not make good people.

 

Gwee Li Sui, The Other Merlion and Friends. Singapore: Landmark Books, 2015.


Gwee Li Sui é poeta, ilustrador e crítico literário. A sua obra poética inclui Who Wants to Buy a Book of Poems? (1998), One Thousand and One Nights (2014), Who Wants to Buy an Expanded Edition of a Book of Poems? (2015), The Other Merlion and Friends (2015), Haikuku (2017), e Death Wish (2017). Escreveu o primeiro romance gráfico de Singapura, Myth of the Stone, que foi publicado em 2013. Gwee editou importantes antologias literárias.   Também é o autor de FEAR NO POETRY!: An Essential Guide to Close Reading (2014) e Spiaking Singlish: A Companion to How Singaporeans Communicate (2017).

 

Miguel Cardoso vive em Lisboa. Ensina, traduz. Escreve em longos problemas respiratórios. À noite lê Albas e Ruy Belo. A poesia é para esperar por manhãs seguintes. Às terças e sábados levanta-se. Vai à Feira da Ladra.  Ler também aqui.