Dyz-m’a myn meu coraçã
joana meirim
Este poema não devia ter sido esquecido porque serviu de mote a Miguel Esteves Cardoso na sua crónica sobre o amor, intitulada precisamente “Amor” e publicada n’A Causa das Coisas.
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Este poema não devia ter sido esquecido porque serviu de mote a Miguel Esteves Cardoso na sua crónica sobre o amor, intitulada precisamente “Amor” e publicada n’A Causa das Coisas.
Read MoreE enfim, gosto deste poema porque, como mais tarde diria um outro enorme poeta, “o bem passado/ não é gosto mas é mágoa”. Uma grande verdade da vida, quer queiramos, quer não.
O poeta enuncia o seu erro, que quase quer fazer passar por trágico, da seguinte forma: “fui-vos ouvir nomear”. Não há palavras, para além do verso, para descrever a beleza do próprio. Não admira que Sá de Miranda fosse tratado por “Doutor”, a escrever assim.
Read MoreMas a língua portuguesa – “nunca tam tristes vistes/outros nenhuns por ninguém” – essa, resplandece e dá ao poema a sua belíssima singularidade, criando ao mesmo tempo um efeito de simplicidade musical que faz com que toda a gente goste deste poema quando o lê (penso eu).
Read MoreEste poema não devia ter sido esquecido porque é sobre envelhecer, e isso acontece-nos a todos. Como afirma o autor: “Antre tamanhas mudanças, / que cousa terei segura? / Duvidosas esperanças, / Tão certa desaventura...”
Este poema não devia ter sido esquecido porque não é apenas sobre o amor entre duas pessoas, ou sobre amor não correspondido, ou sobre amor carnal ou neo-platónico – é também, ou até principalmente, acerca do amor e a ânsia que se podem sentir sobre uma “terra”.
Read MoreEste poema não devia ter sido esquecido porque é uma breve e melodiosa constatação de uma verdade que qualquer pessoa já sentiu e que provavelmente sente todos os dias: a cabeça não vive sem corpo, e este impõe a sua vontade muitas vezes. Camões cantava honestamente e sem rodeios “espera um corpo de quem levas a alma”.
Read MoreEste poema nunca devia ter sido esquecido (e provavelmente não foi) porque cruelmente descreve o confronto entre aquilo que somos e aquilo que gostaríamos de ser. O que gostaríamos de ser são os castelos de vento; o que somos é “fraco entendimento”, e castelos desfeitos. É, pois, um poema cruel.
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Gosto deste poema antropomórfico porque representa, em linguagem simples, a sensibilidade e a juventude como positivas e profundas. Na sociedade japonesa contemporânea, as mascotes e personagens antropomórficas inundam não apenas as superfícies comerciais, mas igualmente as políticas, já que autarquias, polícia e até tribunais criam as suas próprias personagens para promover as respectivas actividades. Neste sentido, toda a sociedade japonesa parece sofrer de infantilização. Ainda que se possa criticar este fenómeno, podemos também perguntar-nos se a infantilização é apenas sinal de uma detestável imaturidade, ou se acaso haverá algo válido que lhe subjaz. Este poema parece-me oferecer um excelente caminho para compreender este assunto.
Assim, como devemos interpretar um poema que, apesar da sua popularidade no Japão, parece ser ignorado para lá das fronteiras deste país? Importa lembrar que Kudo Naoko escreve muita poesia para crianças. Na verdade, e desde a sua publicação em 1982, “Lion of Philosophy” [“O Leão de Filosofia”] foi já frequentemente adoptado por manuais do ensino secundário japonês. À primeira vista, o poema parece representar as conversas bizarras e infantis entre o “putativo” filósofo Leão e o seu amigo Caracol, possivelmente na savana africana, que é muito mais exótica do que o Japão. Quer isto dizer que esta literatura deverá ser entendida como “infantilizada”? Não devemos, porém, ignorar o cuidadoso uso que a poetisa faz da língua japonesa ao representar algo que pura e simplesmente poderia ser cómico e do campo do fantástico. No original japonês, nota-se que da palavra “filosofia” se fazem usos cuidadosamente diferenciados. No discurso do Leão, filosofia (“tetsugaku”) escreve-se com caracteres Hiragana (てつがく). Para os leitores com conhecimentos de japonês, isto implica um traço de infantilidade por parte do Leão, já que os adultos escreveriam a palavra “filosofia” recorrendo a caracteres Kanji (哲), mais complexos. A infantilidade do Leão justapõe-se aos versos do Caracol, que fala sempre sobre filosofia com caracteres Kanji. O conceito de filosofia é estranho ao Leão, mas para o Caracol é uma forma de conhecimento estabelecida e experienciada. Assim, Kudo representa o Leão envolvido numa luta enternecedora e infantil para assimilar o novo conhecimento transmitido pelo Caracol, que é, para o Leão, um sábio mestre cujas palavras lhe revelam uma imagem que nunca antes vira. A estranheza do Leão face ao conceito de filosofia, que lhe é alheio, reforça-se nos versos 1, 3 e 12. Deste modo, o Leão tenta ser, ele próprio, “filosofia” (usando “tetusgaku” como substantivo, o que é agramatical), e não aquilo que inicialmente, no verso 2, o Caracol lhe dissera que deveria ser, “filosófico” (“tetsugakuteki”, o adjetivo gramaticalmente correto).
No fim do poema, o Leão torna-se de facto em “filosofia”. Dir-se-ia que aprendeu aquilo que a sua aparência deverá ser. Porém, o mesmo não é dizer que o Leão se torna “filosófico” – de notar que nos últimos versos do poema ainda usa a palavra “tetsugaku” em caracteres Hiragana. Facilmente se poderia minimizar o Leão por se preocupar tanto com a aparência superficial de filosofia/filósofo, e pela expectativa irrealista de poder exibir a sua nova identidade meramente através de poses e afectações. Não é, porém, este o objectivo do poema. Muito pelo contrário, a beleza deste poema, penso eu, reside no facto de valorizar o Leão, que à sua maneira singular se torna efectivamente em filosofia propriamente dita. A beleza peculiar do Leão “de filosofia” – que sem querer se torna ainda mais “belo e magnífico” do que o anterior “Leão filosófico” – faz-nos pensar sobre o potencial de uma criança desconhecedora que se abre a um mundo novo e aí permanece, solitária, pela primeira vez na vida. Compreendemos assim que, afinal, é isto a filosofia.
Deste modo, ao diferenciar minuciosamente a escrita da palavra “filosofia”, o poema antropomórfico de Kudo Naoko torna encantador o processo de tentativa-erro através do qual o Leão se tenta recriar como o Outro desconhecedor. Encontrar o nosso novo Eu através da voz de outro representa o processo de descoberta de um inesperado potencial. Este não é um processo fácil para ninguém: precisamos de nos preparar para aguentar ombros hirtos, fome e solidão. No entanto, tal como o Leão, talvez no fim consigamos encontrar a beleza peculiar e a magnificência. A sensibilidade do poema ao representar este potencial numa linguagem muito simples parece dizer-nos que ser infantil não deve ser, afinal, assim tão mau.
Akihiko Shimizu
Akihiko Shimizu ensina Japonês na Universidade de Edinburgo. Há alguns anos, Aki tropeçou num epigrama de três versos de Jonson, achou-o tão misterioso que decidiu tentar perceber de que raio trata o poema. Acabou por escrever uma tese de doutoramento sobre o autor.
Tradução Rita Faria
Este poema não devia ter sido esquecido porque lê-lo evita muitas idas ao psiquiatra. É um exemplo perfeito da respiração da poesia que alivia a nossa própria respiração, e qualquer asmático (como eu) sabe perfeitamente de que estou a falar.
É um poema muito “ensimesmado” (entre aspas porque me parece uma palavra feia, mas que com o tempo se vai tornando bonita), fechado em si e “solipsista” (aspas pelas mesmas razões) mas simultaneamente universal, perturbador, e que explica avant la lettre o que Oscar Wilde, tão dado ao espalhafato, gostava de dizer – que os piores crimes do mundo se cometem na mente humana.
Bernardim confronta-nos com a alienação (“de mim me sou feito alheio”), que talvez possamos definir como a sensação de olharmos ao espelho e vermos um completo estranho que ostenta princípios, morais e verdades inteiramente diferentes da nossa – ao ponto de lhe podermos chamar mentiras. Este vilancete explica, assim, todos os momentos da vida em que lutamos contra aquilo que devemos fazer, e não contra o que meramente podemos e queremos fazer.
Normalmente, escolhemos a facilidade e a cobardia de fazer o que podemos e queremos, não o que está certo – “tão nossos inimigos somos”. A Linguística chama à modalidade, aqui transmitida pelos pomposamente designados “verbos modais” “dever e “poder”, a atitude do falante face ao enunciado linguístico. Bernardim chama-lhe qualquer coisa “que se alevantou”, “engano”, “mor dano”, e descreve o momento de lucidez cruel – “caro custa o desengano” – em que imperativamente sabemos que o nosso cérebro comete um crime, ou esse momento cobarde em que escolhemos o fácil e não o certo.
O mundo está cheio de má pessoas que julgam ser boas pessoas apenas porque nunca mataram ou insultaram ninguém sem ser pelas costas. Todos somos assim, menos Bernardim (a musicalidade deste nome confirma-se pela facilidade das rimas que permite). Ele sabe que quando o momento do desengano chega, as máscaras bondosas que cobrem o nosso Eu feioso, muito menos ideal do que desejaríamos, caem e deixarão à vista um paupérrimo retrato de Dorian Grey (quem diria que Oscar Wilde tinha tanto a ver com isto). Pelo menos, cá está Bernardim para informar de que a vida é como é, de que a condição humana se digladia com a sua própria torpeza, e enfim, “assim nos tem, assim estamos”.
Publicado no Cancioneiro Geral, este vilancete segue a “medida nova”, a moda do seu tempo, tal como muito em voga estava o badalado tema da “fragmentação do Eu”, igualmente explicado pela cantiga “desavinda” de Sá de Miranda em que este se queixa de não poder viver consigo nem sem si (a pronominalização aqui reflecte toda a intricada filosofia da cabeça destes poetas). E porém, a simplicidade desarmante e verdadeira de Bernardim ganha pontos, diria eu. “Entre mim mesmo e mim, não sei o que se alevantou” (...) “De mim me sou feito alheio”. De aliteração em aliteração, o poeta diz tudo o que há a dizer em meia dúzia de versos. Não há cá verborreia.
De Bernardim, dizia Almeida Garret: “nenhum poeta português escreveu tanto com o sangue do seu coração”. Ou talvez, nenhum poeta português escreveu tanto com a tormenta da sua cabeça. E essa tormenta, porque tanto a reconhecemos, acalma a respiração, alivia a asma. Não estamos sós.
Rita Faria
Rita Faria é professora na Universidade Católica Portuguesa, não sabe fazer mais nada sem ser ler e escrever e não quer fazer mais nada sem ser ler e escrever. Fora isto, gosta de filmes de terror, vampiros, fantasmas e zombies em geral. E considera que o português é a língua mais engraçada do mundo.