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Confinamento

Exercício

Maria S. Mendes

Quem se tenha aventurado, nestes dias de quarentena, fora das paredes prisionais da sua casa, alcançando os lugares amenos dos parques e da beira-rio em que a cidade abranda o seu abraço de pedra, para concessões, fúteis mas agradáveis, ao corpo nu da natureza, terá observado, pasmado e alegre, que eles estavam mais cheios do que nunca de uma população peculiar de cidadãos em funções de exercício: runners, footers, ciclistas, skaters... nunca se viu tanta concentração de adeptos do fitness nas ruas de Lisboa (e das outras cidades do mundo em que esta forma de sair não fosse cruelmente negada pelo aperto do contágio).

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Aviary

Maria S. Mendes

De qualquer modo, um dos motivos pelos quais gosto deste poema deve-se ao facto de ser possível interpretá-lo pelo menos de duas formas: ou temos um pássaro dentro do aviário e alguém que o aprisiona; ou temos um pássaro fora do aviário, que voa ao longe e é observado pela pessoa dentro da prisão. A única coisa que fica clara é que, tal como se percebe logo desde o início do poema, esta parece ser uma prisão de onde não se sai, a não ser que sejamos, claro, capazes de olhar para as paredes e imaginar que o nosso aviário é, na verdade, uma gaiola de voo.

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(em directo)

Maria S. Mendes

acredita

não posso com certas séries

de palavras que aspiram ao cómico

em tempos de peste não se limpam livros

e pensamos todos os dias

como lúcidos sem drama fizeram

em colocar a própria cabeça

inteira dentro da TV

mas logo desisto de ser séria

eu e as minhas células

mais a mais

só publicam porcarias e eu

cansada de filmes e não-filmes

prefiro desver tudo aquilo que desce

ou até aquele que certamente

nunca seria o programa preferido de Arendt

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Standing Furthest

Maria S. Mendes

O início do poema “Standing Furthest” de Mary Ruefle é capaz de soar familiar a quem esteja a ter dificuldades em ser produtivo durante o isolamento: “All day I have done nothing”. A ordem do primeiro verso é importante. Na verdade, “I have done nothing all day” seria a forma mais natural para expressar a ideia da frase. Ao inverter a ordem, Ruefle enfatiza o intervalo temporal entre “all” e “nothing” – que são eles próprios, por sua vez, opostos. Porém evitaria chamar a “Standing Furthest” um hino ao ócio, apesar do tom afirmativo do primeiro verso. Há, pelo contrário, um sentimento de culpa inerente à descrição que Ruefle faz das árvores que se encontram lá fora: “To admonish me a few aspen/ jostle beneath puny stars”. Os “aspen” movem-se violentamente (“jostle”), não por causa do vento, mas para censurar Ruefle por não ter feito nada todo o dia.

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