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Poemas de agora

MAS

joana meirim

Gosto deste poema porque ele é resultado de um furto. O furto de uma fala que se quer dizer sem dono, imune, inocente. Para quem não a conhece, “mas é limpinha” faz parte de uma das mais comuns frases-feitas do Brasil. Fala esta que funciona como uma espécie de cosmético moral do discurso sexista, racista, elitista.

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Uma inocência

joana meirim

Gosto deste poema porque é sobre um “certo tipo de coisas” e um “certo tipo de palavras”. Aquele certo tipo de coisas poderá relacionar-se com plásticos, vidros, metais (“lixo”); este certo tipo de palavras poderá articular-se com o ofício da poesia e o do poeta (“O que faz a poesia?/ Remir e remir e remir/ como as asas espancando”). O modo distinto como essa ligação é percebida poderá abreviar-se nisto: o poema é feito a partir de um certo tipo de palavras que, procedendo da sujidade e do monturo, deles se liberta violentamente. Duas actividades – fazedores de palavras e fazedores de lixo – exclusivamente humanas e que, numa leitura atenta, não deixam de favorecer estranhas correspondências.

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Rain on Tin

Maria S. Mendes

 “Rain on Tin” é o último poema de Salvation Blues, de Rodney Jones. Ao lê-lo, começamos por deparar-nos com um título provocador: porque tornaria a felicidade prometida pela salvação alguém melancólico [blue]? O título lembra-me o destino das estrelas brilhantes das comédias shakespearianas (como Beatrice, Rosalind e Portia) que têm de se submeter à ideia de que, apesar dos esforços que dedicaram, com esperteza e charme, à educação dos seus futuros maridos, ficarão condenadas à redenção e ao final feliz que a comédia promete. 

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Ser o homem-aranha não me tenta

Maria S. Mendes

Quer dizer, o poema que começa com o ser acaba com o sexo, o que talvez o afaste em definitivo de qualquer leitura infantil. Mesmo que se dê o caso de este ser um discurso de sedução num poema de amor de um aranhiço pelo homem-aranha, o das “ventosas e outros artifícios”, o que reverteria a consagrada narrativa do super-herói numa aracno­filia de dois sentidos. Será talvez, em última instância, a única leitura que pode explicar o que faz o almoço no meio do poema, e sobretudo essa entrada fria a rimar em ausência com a mais célebre das dobradas.

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Siringe - III

joana meirim

Este poema de Rosa Maria Martelo é a parte III de “Siringe” – um livro dividido em cinco partes, sendo o Epílogo da obra homónima que foi editada pela Averno em 2017 e que inclui dois textos publicados anteriormente: A Porta de Duchamp, de 2009, e Matéria, de 2014 – e eu li-o como um poema que me fala sobre poemas. Esta é a razão principal por que eu gosto deste poema.

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